20 de julho de 2007

eco de palavras .I

Lanço mão ao passado e agarro com força alguns molhos de palavras errantes. Arrojo aqui dar-lhes algum espaço. Crio a saga 'ecos de palavras'. Uns pelo que dizem, porque assim o quero dizer ainda, outros mais pelo gozo que me deram a escrevinhar.




entender o nada

Não consigo entender o nada, porque não comigo sequer imaginá-lo – o vazio, a inexistência de tudo o que existe, o desaparecimento da matéria e do abstracto, a existência de coisa nenhuma. E a consequência é falhar-me também o sentido da existência daquilo que existe. Como? Porquê? Para quê?

E assim se revela a vida perfeitamente inútil e inconsequente, o nada…

E saber-me no meio de tudo, ter consciência da minha consciência, aceder ao brio da metafísica é a maior virtude e o maior entretenimento que eu poderia desejar, que poderia ter, que desejo e tenho.

E assim vista, por detestável que possa ser, eu cada vez mais amo a existência da vida, resumida neste e no abominável mundo exterior.

E observo os comuns, habitando o mundo dos parranas à sua maneira, mundo que também é o meu, ao qual também pertenço quando sou comum.

E talvez por isso, por ser mas comum de que incomum (mais vezes comum que incomum, portanto) e por continuamente romper a inconsciência por lapsos de consciência, inconscientemente vou tendo o gozo de viver. E assim vivo e sinto, vivendo e sentindo ainda assim de forma própria e consciente. E assim amo a vida e o comos, que não sei o que são.

O estado de consciência parece-me ser processado por níveis. E volto a mar a vida e o cosmos quando volta a doença do pensamento, quando tudo se desfaz ao desembaraçar-me do mundo e ao embrenhar-me no meu existir, no existir de tudo o resto, quando do alto olho e vejo a esfera, o cosmos. E amo-o porque o odeio e odeio-o porque o amo.

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