2 de março de 2014

um amanhã que nos trama



Gladiadores infermos,
lutamos e esperamos,
esperamos sem lutar,
esperamos sempre,
sonhamos sempre,
com o além que se sustém,
com o Godot que nunca vem.

Acordamos sem dormir,
duvidamos do porvir,
ansiosos, desiludidos,
"have we nothing but tomorrwos?"1

(1. JP Simões, A million songs of yesterday)

24 de julho de 2011

para a construção do belo

"Disseste-me uma vez que o patético não te emocionava, mas que a beleza, a pura beleza, podia comover-te às lágrimas."1

(1. Oscar Wilde, em O Retrato de Dorian Gray)

15 de fevereiro de 2010

da inexistência da perfeição

Não soube nunca ser feliz por insistir encontrar a perfeição. Em tudo o que vejo, em tudo o que faço, em tudo o que penso, em tudo o que sei, em tudo o que sou, não soube nem saberei nunca ser feliz. Pelos sublimes que procuro, pelos sublimes que quero, que não são senão oníricos, não saberei nunca, teimosamente, ser feliz.

1 de novembro de 2008

os bons otomanos




Em frente ao computador cheira-me a Kebab. Respiro fundo e aspiro o aroma do chá e das especiarias. E dos doces. E dos vapores do nargilé. Cheira a azul e cheira a creme. E ao cheiro do chulé. E cheira à cor dos turbantes, dos tapetes, da pashmina. Inalo as buzinadelas e o roncar do trânsito. E o perfume quente do sol derrete o perfil melodioso da cidade. Fede burburinho, fede frenesim. Falam minaretes, fala o Bósforo. Booooooooooza! Cheira a festa. Cheira à nossa festa!

E vejo cidades, e vejo o mar e banhos, e vejo a bruma nascente do próximo oriente. Ouço a História contada por pedras talhadas, ouço a natureza verde e ouço a paisagem ocre e cinza lunar.

12 de maio de 2008

via latina







Saí de casa trajado, coisa rara, por respeito simbólico à minha Universidade. O sol cruzava-se com brisas frescas, num dia colorido que adiantava a Primavera. Foi o primeiro dia de Março de 2008. No auditório da Reitoria procurei o meu lugar. Sossegado vi a sala encher. Sossegado ouvi o discurso da abertura solene, ouvi os nomes dos premiados, das dezenas de homenageados e das dezenas de novos doutorados. Sossegado espantei-me vendo a sala esvaziar-se. Dez minutos antes aquela sala estivera praticamente cheia. Quase só, assisti a mais um lançamento da Via Latina. Quase só voltei para casa, encolhido de vergonha por quase só ter saído do auditório. Apeteceu-me despir o fato preto e ler a ¡Hola! de bermudas e sandálias… para sempre!

Na inauguração da X Semana Cultural da Universidade de Coimbra deste ano a Via Latina premiou a cultura portuguesa com o lançamento de «nas linhas da imaginação», o quinto número da sua sexta série. Sexta série é desde logo sinónimo de tempo e de tempos e legitima por isso os vários formatos que a Via Latina já conheceu. Desde 1889 já foi jornal, já foi revista, já teve periodicidade regular e não, esteve com e contra o poder. Contou com a participação dos mais consagrados nomes do círculo intelectual português cumprindo sempre a função para a qual foi desenhada – um palco de discussão intelectual - conferindo ser uma das mais importantes publicações da Universidade de Coimbra.

Olho o panorama nacional actual onde os agentes da cultura lutam para teimosamente sobreviverem. Num país e numa universidade onde a produção e o consumo de cultura roçam níveis indesejáveis, não pude recusar animado a oportunidade de participar neste projecto e nesta edição da Via Latina. E convidei um amigo.



(texto publicado na Via Latina número5 sérieVI)

A criação como (des)ilusão prática da imaginação

João Crisóstomo*, Luís Loureiro**


Seria formidável se a obra fosse uma reprodução fiel da ideia imaginada.

É difícil falar da imaginação, por ser um processo tantas vezes tão consciente como andar, falar ou ouvir. Antes existe o vazio, depois o problema. Usamos da imaginação de forma muito prática para dar resposta a problemas com que nos deparamos no nosso quotidiano. Ou a uma equação mais difícil que nos propusemos resolver. Quanto mais complicado for o problema a resolver e mais limitados os recursos ao nosso dispor, mais engenhosa terá que ser a ideia que lhe dará resposta.

A imaginação não é, naturalmente, infinita. Não existe tal coisa como um infinito de ideias. Basta não nos ser possível imaginar uma coisa. Não imaginamos nada que não tenhamos de certa forma experimentado, ou que de certa forma não compreendamos. ‘Não imaginamos uma cor fora do espectro solar’1. Neste caso, o infinito menos um será igual a finito. Mas as possibilidades da imaginação serão ainda assim substancialmente maiores que as possibilidades da criação.

A imaginação revela-se sendo uma capacidade mental de representação do ausente. É uma propriedade do ser humano que lhe permite concretizar num plano abstracto uma noção, uma ideia que não é fisicamente palpável.

Immanuel Kant disse um dia que ‘a felicidade não é um ideal da razão mas sim da imaginação’2. Quereria Kant dizer que somos tanto mais felizes quanto menos pensarmos como diria Alberto Caeiro? Ou que a imaginação é um caminho inequívoco para a felicidade? Ou que a felicidade só existe no plano do imaginário? Talvez Kant quisesse dizer que a imaginação é um universo de produtos não racionalizados, de ideias. De situações que não são noutro cenários possíveis. Porque na nossa imaginação a grandeza, a força, a virtude, estão à distância de um pensamento. E por não haver obstáculos na criação desses universos, desses contextos idílicos. Platão acrescenta. A realidade não é senão a projecção imperfeita da ideia imaginada. 3 Assim, as coisas são cópias imperfeitas das ideias que lhes deram origem.

Falemos portanto da criação, que é a transformação em coisa da ideia imaginada.

Muitas vezes, neste processo de geração de uma ideia que dará resposta ao problema sentimos uma frustração igualmente inconsciente, porque a ideia que concebemos está ainda longe de ser uma solução concreta, porque não está ao nosso alcance a reprodução mimética da ideia em forma de solução e nem sempre está igualmente ao nosso alcance uma reprodução aproximada e eficiente. Quem nunca viu um poeta desesperado?

É este processo de transformação do mental em facto, através da criação, que se revela imperfeito. De uma outra forma, a imaginação é, por oposição ou não, um complemento da lógica e da linearidade racional. Não sendo lógica nem linear, a imaginação ao aparecer representada em obra pela criação obriga a que esta seja naturalmente imperfeita, imperfeita por comparação com a representação mental imaginada. Seria portanto formidável se o produto da nossa imaginação fosse uma sua reprodução fiel.

Explicamos. A criação não pode ser uma reprodução mimética da ideia porque o nosso universo imaginário é muito mais vário e muito menos sujeito a interferências externas do que a nossa criação. Para pintar um quadro, por exemplo, é precisa naturalmente uma ideia. Mas é precisa igualmente uma resposta eficaz da mão à ideia. A mão tem de saber responder a esse impulso. Ainda assim a ideia jamais será transmitida da forma imaginada, por muito que expliquemos que o quadro é sobre isto ou aquilo e que este borrão é uma pessoa, aquelas linhas são uma estrada, e por ai em diante.

Muitos indivíduos seriam artistas natos se a criação fosse uma consequência directa da ideia imaginada.

Seria então tão ou mais formidável se a criação fosse uma consequência directa da ideia imaginada. No mundo feito de ideias não contariam aspectos como a eficácia, a resistência, a persistência, a prática ou o engenho do ofício. Contaria apenas a qualidade da ideia. A única coisa a educar seria o pensamento.

Mas não é.

Posto de outra forma, a criação é a procura da melhor maneira de compor códigos. A imaginação é primeiramente parte integrante do domínio privado, a imaginação é nossa. Por seu turno, a criação, enquanto obra, revela-se do domínio público, é lida, vista, sentida por um conjunto alargado de pessoas. E por isso tem de ser entendida. Entendida de uma ou outra maneira. No limite talvez nem seja entendida, mas será sempre uma tentativa de linguagem, de expressão. A imaginação é de um domínio privado, uma vez que se mede por códigos pessoais e intransmissíveis. Uma ideia pode até ser partilhada por um grupo, se o grupo partilhar de uma linguagem própria que assim como codifica, descodifica determinados conceitos, formas ou imagens. Por isso a imaginação não deve explicações a ninguém. Mas a ideia criada, construída, passa imediatamente a pertencer ao domínio público.

Mais importante que isso, a necessidade de concretizar em obra a imaginação faz com que a ideia ultrapasse esse domínio de certa forma descomprometido, para o domínio dos outros, sob a avaliação de outros imaginários. E porque a criação não é nunca uma repetição da ideia, o processo de produção artística tem que ser necessariamente difícil. Mesmo assim, muitas vezes a obra criada surpreende a própria imaginação. A criação tem dez por cento de inspiração e o restante de transpiração. O trabalho sobre o acto criativo, a tal busca da melhor maneira de compor os códigos e os elementos compositivos de uma criação, pode levar a um resultado inconscientemente superior ao imaginado. A procura da ideia, tantas vezes esgotante, é o primeiro passo de um processo longo de experimentação, avaliação e correcção, nas artes como nas ciências, nas humanidades, nas filosofias, na antropologia, em tudo. A arquitectura é um exemplo nato que unifica estes três factores. Primeiro é precisa uma ideia, depois julgar a ideia na medida das limitações da sua reprodução e por último torna-la legível e adaptável a outras pessoas, outras linguagens.

"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce". 4


Referências bibliográficas:
1 FERREIRA, Virgílio, Pensar, Lisboa, Bertrand editora, 7ª edição, 2004 (pág. 9)
2 http://en.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant (em 1/01/2008)
3 OLAIO, António, Ser um Indivíduo Chez Marcel Duchamp, Porto, Dafne editora, 2005
4 PESSOA, Fernando, Mensagem, «O Infante», Lisboa, Assírio e Alvim, 2004 (pág. 49)


*aluno do 5o ano do Darq-FCTUC, director da revista nu

**aluno do 5o ano do Darq-FCTUC, erasmus na VDA de Vilnius

18 de março de 2008

o som do gigante



Há pouco olhei o meu elefante de ébano. Veio-me à memória o pedaço de África que te trouxe…

Lembras-te das tardes passadas a ver os leões correr? E lembras-te da palavra várzea e «bicho da terra», ou da palavra cidade e da palavra livro?

E lembras-te, se eu te escrever, de escola, relógio, amizade? E carro? E gelado? E mesada? E ternura? Lembras-te dos teus dedos esguios apontando a honestidade e o brio? Lembras-te? Mas é claro que sim… E sei também que ainda berras golo a meu lado.

Sopro-te ao ouvido um beijo,

E ofegante grito um abraço.

João

17 de fevereiro de 2008

metáfora de um tempo


as saudades que eu tenho tuas, Jupiler.
companhia da noite e das suas dádivas eternas
companhia das tardes e do sol
das gargalhadas de cores e de amizade
dos risos e dos rasgos de loucura
da independência de um eu que era só meu.


Ecoam atrás de mim a Beestenmarkt e os putos da Troelstralaan.



11 de fevereiro de 2008

ser um poema

Um amigo meu tem a convicção de que para bem escrever poesia é preciso viver muito. Não basta apenas dominar profundamente as ferramentas da língua. Já conversámos longamente sobre isso. Eu também tenho essa convicção.

E ler poemas requer também vasto passado, traquejo, pôr a memória a escrever o sentido do poema, a fotocopiar as lembranças. Porque uma coisa é entender os poemas, outra coisa é entendê-los sentindo-os. São os anos que os constroem.

25 de janeiro de 2008

febre histórica e o abc da península ibérica

Os romanos, grandes engenheiros de estradas, ocupam a Península Ibérica e chegando ao noroeste peninsular, orgulhosos, afirmam calmamente: ‘Já cá estamos’. E os autóctones afirmam desprezando: ‘oh! Com essas vias todas não admira que já castrejam’…

Mas já outros vinham também a caminho. Entram na península os alanos, os fulanos e os beltranos que entre lutas e empurrões, ironicamente perguntaram a uns outros retraídos à beira mar: ‘acabou-se! celtas ou não celtas?’. Mais tarde chegam os visigodos. Invadem primeiramente a Gália, em França, fixando-se em Toulouse. Os gauleses prontificaram-se a expulsá-los de forma simples ordenando num tom grave e agressivo: ‘tu!.. loose!!’, e os desgraçados pimbas! Saltam os pirinéus para a Península. Mas os visigodos, como eram tutu lá nestas coisas, depois de Toulouse, pimbas! Toledo! E estando a península ocupada por diversos povos, os visigodos trataram de começar a empurrá-los dali para fora. A norte deram uma ‘sueva’ histórica. A sul foi mais assustador… perante os bizantinos intimidaram-se, ‘humm… Cosntantino? Óplaaa!!’

E fico-me por aqui… o moço árabe que conte o resto…

eu, o carro e o animal hipócrita

Um dos meus lugares de eleição para pensar profundamente é o carro. Peço desde já desculpa aos outros condutores mas é-me impossível largar o vício inconsciente e de nascimento espontâneo de pensar enquanto conduzo. Sozinho, alienado, fixo os olhos na condução mas foge-me o cérebro para o além. Vagueio pelos pensamentos e pela imaginação. E até me rio sem querer. Umas vezes contraceno comigo mesmo, outras projecto, e escrevo, e descubro, e acho conclusões.

Há dias fui ao cinema. Há dias vim para casa a pensar. Não me sei conformar com toda a hipocrisia da política internacional.



(texto a completar)

2 de janeiro de 2008

o poeta que não sou

(parte I)

Ser poeta é realmente ser mais alto. É conhecer o sentido subtil e profundo das palavras. É conhecer os seus significados escondidos. É construir puzzles de sons e significados. É esculpir imagens, estimular sensações que dão baque. É provocar a memória e os desejos, escolhendo e lembrando o termo certo.

Eu não sou poeta. Desolé.



(parte II)

Eu não sou poeta e por isso sou ladrão. Há palavras e poesia que me cravam facas de tão próximas que são de mim. Eu não sou poeta e por isso roubo aos outros aquilo que não escrevo. Roubo versos e com eles componho os meus poemas. Descontextualizados esses versos ganham um novo sentido.

(lamento a possível desilusão mas os poemas guardo-os para mim).

1 de janeiro de 2008

new year

Today is tuesday. New year. 2008. So what?!?!
Today is just tuesday.

29 de dezembro de 2007

o fim do natal

O Pai Natal não existe. O Natal também já não existe. Acho que morreu de velho. Sim, o Natal morreu de velho.

8 de dezembro de 2007

glass or crystal

There is a she and there is a he
that should be you and me.

30 de setembro de 2007

welcome back


Exactamente uma semana depois de ter sido dado como desaparecido no meio de 12 hectares de milho nos campos do baixo-mondego e após exaustivas buscas, foi resgatado com vida o menino dos meus olhos.

21 de setembro de 2007

o sol

Luz e matéria. O sol afunda-se no horizonte. O sol afunda-se calmo, em ouro carregado de vermelhos.

16 de setembro de 2007

o touro


Qualquer parecença com uma qualquer tendência pop é pura falácia.
A repetição do elemento touro acaba por ser propositada, garantindo-lhe ser protagonista simbólico, mascote do meu sentimento e sangue latino.
Caminho. Dou voltas. Regresso. Minha cidade é o mundo. A minha casa é a nossa Península. Eu sou aqui.


4 de setembro de 2007

massa

Os fenómenos de massas cobram-me uma estimável admiração.
De repente estou virtualmente rodeado, não me mexo, e por isso dou por mim. Altivo, do alto de meu poleiro, afio o dente e de imediato projecto o olhar, os ouvidos e até o cheiro e admiro à minha volta. Aprecio, descolo o cérebro do marasmo dos procedimentos e pensamentos quotidianos mecanizados e aprecio…
…Se numa mão acuso escandalizado a pequenez do nosso juízo, orientado por uma influência global, presa cega de um predador sem escrúpulos (que vai desde o consumismo, ao capitalismo, à politica, à moda…) ou tão simplesmente presa dos impulsos das fronteiras da nossa identidade cultural, da nossa maneira de fazer as coisas, na outra mão assumo que assim o somos porque assim o necessitamos de forma absoluta. E essa cegueira e esses impulsos, talhados de modo mais poético, paradoxalmente são produtores de sensações, sons, bailados, fotografias, movimentos impecáveis.




29 de agosto de 2007

o dom da palavra

Sou apreciador da palavra intrincada, da frase complexa. Mas daquelas bem escritas, que metem inveja, que são bonitas, que têm sonoridade, que batem certo, e que na sua complexidade no entanto têm significado ao primeiro olhar; gosto, portanto ou por outras palavras, de sumo. E sumo também o há ainda noutras, que por tão simples e tão doces, transformam e arranjam vocábulos coloquiais num perfume sublime. Aquelas que nos tocam, que nos cantam a nossa vida de tão parecidas que são connosco. Dizem o que vemos e o que vimos, o que sentimos e o que sentimos. E cheirámos, e pensámos, e gostámos, e quisemos.
Eu fico desfeito.



Apetecia-me falar de livros mas não será agora. Se verá…

No, no digas que yo me muero
Amor, mi vida es sufrimiento
Yo te quiero en mi camino
Por vos cambiaba mi destino

Tengo un corazón ganando
Yo sé que vos me estas escuchando
Con mis lagrimas te quiero
Pasión, sos mi amor sincero

Ay, abrazame esta noche
Y aunque no tengas ganas
Prefeiero que me mientas
Tristes breves nuestras vidas
Acercate a mí, abrazame a ti por Dios
Entregate a mis brazos





do álbum o mundo de Rodrigo Leão

28 de agosto de 2007

gosto de inícios

_Este seu olhar

este seu olhar
quando encontra o meu
fala de umas coisas que eu nao posso acreditar.
doce é sonhar, é pensar que você gosta de mim como eu gosto de você.
mas a ilusão quando se desfaz
dói no coração de quem sonhou, sonhou demais.
ah se eu pudesse etender o que dizem os seus olhos!


gosto de inícios, por isso fico grato a
António Carlos Jobim

corolário de 'eco de palavras .II'

…ou nem por isso! A cada encruzilhada armo-me com as luzes da metafísica, levanto-me, arranco e componho horizontes.

26 de agosto de 2007

eco de palavras .II


Futilmente me entrego à metafísica. Porque fútil não é ser-se fútil; a futilidade é a ferramenta mais certa para aproveitar a vida que não se sabe o que é. Fútil é desfazermo-nos na inconsequência do pensamento ou nos pensamentos inconsequentes. Merda.
Pensar leva-me inoportunamente ao execrável ciclo do pensamento…

Acomodo-me e sou feliz.



21 de julho de 2007

último capítulo

(tributo erasmusDelft2007)

Acabo de ler um bom livro...
Poptahof e o Centro ficam lá atrás. Olho por cima do ombro. Não dou parte de fraco mas caio sem querer. Ainda assim caio sem vergonha da nostalgia. Um bom livro dizia eu. Ai se foi!
Prosa solta, coloquial, ainda assim recta e produtiva. Formal quando teve de ser, foi bagagem, foi lição. Narrativa coerente, entrecortada por lirismos chocantes que ora fizeramm avançar a acção, ora a prenderam apenas lhe aumentando a carga dramática, teatral. Ao tempo foi dado tempo, tanta demora que o tempo psicológico se tornou confuso. O espaço era inicialmente quase ridículo. Sublime ao final, foi sendo transformado a pouco e pouco por personagens com densidade, que o equilibraram. Há o companheiro de sempre! Há quem se tenha desenrolado ao tempo que o enredo se desdobrava. Há quem não se saiba quem é. Há engenheiros que são artistas, há santos canonizados, há pulgas inquietas, há manhãs mimosas. Há amigos ancorados. Essas figuras destacam-se pela disparidade dos seus caracteres. Não se anulam, multiplicam o guião. As personagens secundárias são um pelotão, para lá da curva. O autor não existe. Obrigado ao autor.




20 de julho de 2007

eco de palavras .I

Lanço mão ao passado e agarro com força alguns molhos de palavras errantes. Arrojo aqui dar-lhes algum espaço. Crio a saga 'ecos de palavras'. Uns pelo que dizem, porque assim o quero dizer ainda, outros mais pelo gozo que me deram a escrevinhar.




entender o nada

Não consigo entender o nada, porque não comigo sequer imaginá-lo – o vazio, a inexistência de tudo o que existe, o desaparecimento da matéria e do abstracto, a existência de coisa nenhuma. E a consequência é falhar-me também o sentido da existência daquilo que existe. Como? Porquê? Para quê?

E assim se revela a vida perfeitamente inútil e inconsequente, o nada…

E saber-me no meio de tudo, ter consciência da minha consciência, aceder ao brio da metafísica é a maior virtude e o maior entretenimento que eu poderia desejar, que poderia ter, que desejo e tenho.

E assim vista, por detestável que possa ser, eu cada vez mais amo a existência da vida, resumida neste e no abominável mundo exterior.

E observo os comuns, habitando o mundo dos parranas à sua maneira, mundo que também é o meu, ao qual também pertenço quando sou comum.

E talvez por isso, por ser mas comum de que incomum (mais vezes comum que incomum, portanto) e por continuamente romper a inconsciência por lapsos de consciência, inconscientemente vou tendo o gozo de viver. E assim vivo e sinto, vivendo e sentindo ainda assim de forma própria e consciente. E assim amo a vida e o comos, que não sei o que são.

O estado de consciência parece-me ser processado por níveis. E volto a mar a vida e o cosmos quando volta a doença do pensamento, quando tudo se desfaz ao desembaraçar-me do mundo e ao embrenhar-me no meu existir, no existir de tudo o resto, quando do alto olho e vejo a esfera, o cosmos. E amo-o porque o odeio e odeio-o porque o amo.

15 de julho de 2007

pontapé para a frente

Mala aqui, chuva ali. Nada digo, apenas evoco o tempo. Até já Delft.

13 de julho de 2007

pole position

Vagabundo e abstracto. Eu ou o blog? Vagabundo eu e o blog. Abstracto eu, abstracto o blog. Sei quem sou. O blog não sei, porém, que identidade terá, porque igualmente não sei o que lhe deu a primeira razão da existência.

Tento perceber. E mais não sei que apenas sou produto da máquina do tempo e da História. E consequentemente me descubro e giro neste mundo contemporâneo. Aliciado, converto-me num amante da imagem, da palavra e do som. Quedo-me encantado à beira de qualquer vórtice de informação.

Talvez esta seja a razão. E apareceu! Tarde, digo. Assim foi porque assim sou eu.

Aqui não sei o que aparecerá. Será sério e pateta, extenso e curto. Sem compromissos. Será ao ritmo da vontade. Será como eu.

Nasceu um blog diletante.

(igual, portanto, a quase todos os outros).